"The New York Times" passou em revista 80 mil documentos interceptados
Agência norte-americana do medicamento esteve por anos espionando seus cientistas
16.07.2012 - 15:04 Por Ana Gerschenfeld
Desde 2009, a FDA (Food and Drug Administration), a agência federal norte-americana responsável pela homologação de novos medicamentos e equipamentos de uso médico, teve acesso, através de umsoftware espião, aos emails de um grupo de cientistas que suspeitava de estarem a colaborar para a difamar, noticiou o diárioThe New York Times.
Na realidade, os cinco cientistas em causa (dos quais apenas dois não perderam o seu emprego na FDA) acusavam o seu empregador de não ter revelado os riscos para a saúde humana, devido ao excesso de radiação, de aparelhos de mamografia a colonoscopia. Entretanto, esses riscos foram considerados suficientemente preocupantes para terem, também segundo o NYT, motivado recentemente um inquérito das autoridades competentes.
Alegadamente com o objectivo de proteger os segredos industriais dos fabricantes dos equipamentos em causa (um deles é a General Electric), a FDA montou um programa de vigilância do grupo de cientistas e acabou por elaborar uma lista de 21 “inimigos”, que incluía não apenas esses seus funcionários, mas também jornalistas, congressistas e cientistas exteriores com quem os “dissidentes” correspondiam por email.
O Washington Post já revelara a existência desta operação de vigilância no início do ano, mas só agora o NYT desmascarou o seu alcance real. "O programa da FDA”, escrevem Eric Lichtblau e Scott Shane, na edição online do diário nova-iorquino, num artigo datado de sábado , “poderá ter pisado o risco da legalidade”. A FDA analisou de facto informações comunicadas pelos cientistas a terceiros que são consideradas confidenciais ao abrigo das leis dos EUA – tais como, justamente, as queixas apresentadas por cidadãos sobre os seus empregadores.
O mais irónico desta história é que os cerca de 80 mil documentos a que os jornalistas doNYT tiveram acesso – e que puderam analisar em profundidade – foram publicados online, num site de acesso público e aparentemente por engano, por uma empresa subcontratada pela FDA. Mais: a publicação dos documentos foi descoberta por acaso, por um dos cientistas da FDA que foram alvo da espionagem, ao fazer uma pesquisa do seu nome no Google.
O software espião utilizado pela FDA é comercializado pela norte-americana SpectorSoft e, por menos de 2500 euros, é possível as empresas clientes instalarem-no subrepticiamente em 25 computadores em simultâneo. O software consegue detectar as sequências de teclas premidas pelos utilizadores desses computadores, bem como fazer cópias dos documentos gravados no disco rígido ou em discos externos – e ainda interceptar os seus emails e enviar alertas às chefias quando palavras-chave consideradas "quentes" são detectadas. A FDA instalara-o nos laptops que os cientistas utilizavam não apenas no local de trabalho, mas também em casa.
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